“Queremos ser líderes no hidrogénio verde”
A Galp está empenhada em ser um ator de relevo na nova economia sustentável, com ambições em várias fileiras e diversas iniciativas já em movimento. Passar a operação em Sines de uma “refinaria cinzenta” para um “parque de energia verde”, lançar o primeiro projeto de biocombustível à escala mundial, explorar a energia solar e apostar na nova fileira do lítio fazem parte da nova estratégia da empresa.
O mundo está a deixar os combustíveis fósseis e a mudar para energias verdes, pondo especial pressão nas empresas que têm no seu core esta matéria-prima. Para Andy Brown, CEO da Galp, este é “um grande desafio, mas a Galp vê-o como uma grande oportunidade para fazer parte do futuro. Por isso, definimos um novo propósito: vamos regenerar o futuro juntos. E isso passa por reformular o nosso portefólio, mas também a nossa relação com a sociedade e a governação.” Andy Brown falava na “Portugal Energy Conference”, uma iniciativa organizada pelo Negócios, Sábado e CMTV sobre o futuro da energia, que decorreu no passado dia 8 de junho, em Lisboa.
O CEO deu conta da transformação que a petrolífera está a fazer e das diversas linhas de atuação na economia sustentável onde a empresa quer estar presente e até ser líder. “Sobre a transformação de Sines, queremos passar de uma refinaria cinzenta para um parque de energia verde. Isto exigirá uma série de medidas. A primeira será no prazo de um ano. Queremos lançar o primeiro projeto de biocombustível à escala mundial, o chamado Projeto HVO. Este fornecerá combustíveis renováveis. Queremos ser líderes no hidrogénio verde.”
A empresa tem um eletrolisador (equipamento que permite produzir hidrogénio através da quebra da molécula da água em oxigénio e hidrogénio) de 2 megawatts em construção e prepara-se para desenvolver um eletrolisador com capacidade de 100 megawatts. “O maior eletrolisador na Europa tem capacidade de 20 megawatts, por isso, este é um eletrolisador à escala mundial”, reforçou Andy Brown. A empresa também está a trabalhar com parceiros noutro equipamento com esta mesma capacidade e a avaliar a possibilidade de produzir e-fuels (combustíveis sintéticos) para a marinha e a aviação. “A nossa ambição será chegar a 2030 com uma capacidade de produção de 1GW”, refere o CEO, que salientou ainda que, “para que as soluções de hidrogénio sejam económicas, é necessário que sejam competitivas em termos de eletricidade renovável, e Portugal tem a possibilidade, dada a sua localização, de realmente captar essa oportunidade”.
A Galp está também de olho noutras vertentes do novo sistema energético, nomeadamente na produção de minerais necessários para as baterias dos carros elétricos e para os painéis solares. Nesta fileira, “a Galp tem uma parceria com a Northvolt para fazer conversão do lítio, retirando as matérias-primas do solo. Assim, relativamente ao projeto em que estamos a trabalhar, uma joint venture de 50%/50%, Aurora, gostaríamos de o sancionar até ao final do próximo ano para até 35 quilotoneladas de hidróxido de lítio. São cerca de 700 milhões de investimento. E selecionámos Setúbal como o local principal para construir essa instalação, que esperamos que seja apenas o início da oportunidade de construir um negócio de cadeia de valor de baterias em Portugal”, destacou o CEO, que salientou ainda o facto de a procura mundial por lítio ir aumentar seis vezes até 2030 e, no caso do cobre, as necessidades duplicarão até 2035. “Hoje em dia, não há instalações de fabrico de hidróxido de lítio em nenhuma parte da Europa. Portanto, esta é uma espécie de estreia na Europa e penso que é realmente importante para Portugal”, reforçou.
A empresa está também na área dos carregamentos de veículos elétricos. Neste campo, Andy Brown salienta que “somos líderes em Portugal. Atualmente temos cerca de 1300 pontos de carregamento e queremos duplicar este número a cada ano e chegar aos 10 mil pontos, em 2025, em Portugal e Espanha”.
A Galp Solar está também a fazer o seu caminho e já conta com 5.000 instalações de painéis solares em telhados e conta com um agendamento “a transbordar”. Recorde-se que o programa europeu REPowerEU pretende precisamente incrementar esta fonte de energia. Por isso, “precisamos de expandir este negócio rapidamente, para satisfazer a procura. Queremos aumentar para o dobro as nossas células de eletricidade renovável”, referiu Brown.
O CEO da Galp deixou também uma palavra sobre a crise que assola o mundo e particularmente a Europa. “Esta crise chegou antes da guerra e deveu-se ao subinvestimento estrutural no petróleo, no gás e nas energias alternativas. A guerra agravou claramente este desafio”, disse, reforçando que o caminho se faz para a frente e não a voltar para soluções ambientalmente mais nocivas: “A Galp foi a primeira companhia petrolífera do mundo a suspender produtos russos uma semana após o início da guerra. Mas o que se tem visto na Europa como uma das respostas para a falta de gás é o crescimento do consumo de carvão – não em Portugal –, mas claramente esta não é uma resposta sustentável, por isso, temos de encontrar alternativas.”